Sensores e IA moldam nova era da guerra com IoMT e IoBT

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Enquanto os exércitos tradicionais se organizam em formações, os campos de batalha modernos estão sendo ocupados por algo invisível: dados. A Internet das Coisas Militares (IoTM) está criando um ecossistema onde cada objeto — de munições a uniformes, de árvores a satélites — pode se tornar um sensor ou um transmissor de informação. Essa realidade, conhecida como IoBT, já é uma prioridade em países como os Estados Unidos e está redesenhando não só o combate, mas o próprio conceito de guerra.

Tecnologia invisível, impacto concreto

A Internet das Coisas Militares (IoMT) é uma extensão do conceito civil da Internet das Coisas (IoT) aplicada a operações de combate. Ela conecta sensores, drones, veículos, robôs, armamentos, uniformes e dispositivos vestíveis em uma rede militar inteligente, capaz de coletar, processar, transmitir e agir com base em dados em tempo real.

Esses dispositivos se distribuem em quatro categorias:

  • Transporte de dados: conectam objetos físicos a redes maiores;

  • Captura de dados: leitores que interagem com o ambiente;

  • Sensores e atuadores: interpretam dados ambientais e geram ações físicas ou sinais digitais;

  • Dispositivos gerais: com capacidades de processamento e comunicação integradas.

A inteligência artificial (IA) é o coração desse ecossistema. Aprendizado de máquina, redes neurais e algoritmos autônomos transformam essa rede em um organismo vivo digital, capaz de se adaptar ao ambiente, antecipar eventos e tomar decisões em frações de segundo — tudo sem depender exclusivamente do controle humano.

Da estratégia à ação: a guerra distribuída e autônoma

Com a complexidade dos combates modernos, especialmente em cenários urbanos, o Exército dos EUA iniciou em 2016 o projeto Internet of Battlefield Things (IoBT), visando integrar dispositivos conectados às operações militares futuras.

O conceito se conecta à chamada Guerra Mosaico, uma nova doutrina operacional desenvolvida pela DARPA, que propõe substituir sistemas monolíticos e vulneráveis por redes flexíveis de dispositivos modulares, descartáveis e adaptáveis, capazes de operar em múltiplas configurações e funções. Cada unidade tecnológica pode se comunicar com outras, redefinindo sua missão conforme a evolução do combate.

Exemplos concretos incluem:

  • Monitoramento de cidades inteligentes em situação de conflito

  • Reconhecimento tático e vigilância automatizada em ambientes hostis

  • Gestão logística inteligente com rastreamento em tempo real

  • Operações cibernéticas e ofensivas eletrônicas com dispositivos distribuídos

Ao integrar-se temporariamente a redes civis, como as de uma cidade invadida, a IoBT amplia suas capacidades e sobrevive em ambientes onde a infraestrutura militar foi comprometida.

Riscos digitais, dilemas éticos e o futuro da guerra conectada

Se por um lado a IoMT oferece eficiência, coordenação e domínio informacional, por outro ela impõe desafios consideráveis. Um dos principais é a cibersegurança: dispositivos mal protegidos podem ser alvos de ataques que comprometem informações vitais, espalham desinformação ou causam falhas em sistemas críticos.

O risco não é apenas técnico. A crescente autonomia de sistemas militares levanta questões éticas e legais: até que ponto uma máquina pode decidir quem é amigo ou inimigo? Qual o limite da ação autônoma em um cenário de guerra real?

A confiança humana na rede também precisa ser garantida. Se o fluxo de dados for confuso, redundante ou falso, pode induzir os operadores a decisões erradas. Por isso, um dos focos de pesquisa é tornar a IoMT intuitiva, confiável e acessível cognitivamente para seus usuários humanos.

Além disso, a escalabilidade do sistema deve ser pensada com cuidado: a guerra do futuro exigirá redes que funcionem em microoperações locais e em teatros de guerra globais, sempre com capacidade de reconfiguração e aprendizado contínuo.

Brasil, Defesa e os desafios da soberania tecnológica

Embora o conceito de IoMT esteja sendo desenvolvido com intensidade por países como Estados Unidos, China e Israel, o Brasil também tem potencial para avançar na aplicação dessa tecnologia, especialmente com o fortalecimento da Base Industrial de Defesa, investimento em pesquisa dual e formação de parcerias público-privadas para adaptação de tecnologias civis ao uso militar.

A integração entre ciberdefesa, inteligência artificial, sensores autônomos e doutrinas operacionais conjuntas será fundamental para que o país não apenas acompanhe, mas atue com soberania nas transformações que moldam o presente e o futuro da guerra.

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Marcelo Barros
Jornalista (MTB 38082/RJ). Graduado em Sistemas de Informação pela Universidade Estácio de Sá (2009). Pós-graduado em Administração de Banco de Dados (UNESA), pós-graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e Comunicação (UCAM) e MBA em Gestão de Projetos e Processos (UCAM). Atualmente é o vice-presidente do Instituto de Defesa Cibernética (www.idciber.org), editor-chefe do Defesa em Foco (www.defesaemfoco.com.br), revista eletrônica especializado em Defesa e Segurança, co-fundador do portal DCiber.org (www.dciber.org), especializado em Defesa Cibernética. Participo também como pesquisador voluntário no Laboratório de Simulações e Cenários (LSC) da Escola de Guerra Naval (EGN) nos subgrupos de Cibersegurança, Internet das Coisas e Inteligência Artificial. Especializações em Inteligência e Contrainteligência na ABEIC, Ciclo de Estudos Estratégicos de Defesa na ESG, Curso Avançado em Jogos de Guerra, Curso de Extensão em Defesa Nacional na ESD, entre outros. Atuo também como responsável da parte da tecnologia da informação do Projeto Radar (www.projetoradar.com.br), do Grupo Economia do Mar (www.grupoeconomiadomar.com.br) e Observatório de Políticas do Mar (www.observatoriopoliticasmar.com.br) ; e sócio da Editora Alpheratz (www.alpheratz.com.br).

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