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Henrique Dias não entrou para a história pelas mãos dos livros — entrou pela força da espada, da honra e da resistência. Em 1648, ao ver Pernambuco ameaçado, reuniu um exército de negros escravizados e foi à guerra com uma única condição: que seus homens fossem libertos. Venceu. Foi condecorado. Fundou um dos pilares do Exército Brasileiro. E, ainda assim, seu nome foi enterrado pelo silêncio histórico.
A origem de um guerreiro esquecido
Henrique Dias nasceu em Pernambuco, no final do século XVI, filho de negros libertos. Desde jovem, conviveu com as tensões sociais, econômicas e raciais que marcavam o Brasil Colônia. Quando os holandeses invadiram o Nordeste, dominaram cidades, destruíram igrejas e massacraram civis. Era o início de uma guerra sangrenta em terras brasileiras.
Com os portugueses enfraquecidos e o território sob ataque, a resistência precisou ser forjada a partir da aliança entre três pilares: nobres portugueses, índios comandados por Felipe Camarão e negros liderados por Henrique Dias. Foi a gênese de um exército verdadeiramente brasileiro — diverso, improvisado, determinado.
Um exército negro em nome da liberdade
Henrique Dias fez algo até então impensável: reuniu escravizados para formar um exército. Convenceu as autoridades portuguesas de que, se quisessem resistir, precisariam da força dos que até então eram invisíveis. Transformou camponeses e trabalhadores cativos em soldados armados e disciplinados.
Mas seu objetivo era mais profundo do que uma simples vitória militar. Desde o início, exigiu uma garantia ao rei de Portugal: se ganhassem a guerra, seus homens deveriam ser libertos. Henrique Dias lutou por liberdade coletiva, não por glória individual. Foi a primeira grande alforria coletiva da história do Brasil, conquistada no campo de batalha.
Guararapes: o nascimento da pátria e da resistência

A batalha decisiva aconteceu em 1648, nos Montes Guararapes, em Pernambuco. Os holandeses, com tropas profissionais e táticas europeias, marcharam para dominar de vez o território. Mas foram surpreendidos por uma força que usava a terra, o clima e a guerrilha a seu favor.
Henrique Dias estava na linha de frente quando foi atingido por um tiro de arcabuz, que destruiu sua mão esquerda. Recusou-se a deixar o campo de batalha. Disse aos soldados: “Me basta a mão direita para defender minha terra e meu rei.” E seguiu lutando.
Não parou ali. Comandou forças em Iguaçu, participou do cerco de Recife, e foi decisivo na expulsão dos holandeses do Brasil.
Conquistas, recompensas e a desobediência heróica

Pela bravura, Henrique Dias recebeu do rei Dom João IV o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, o posto de Mestre de Campo e terras que hoje formam parte do bairro do Derby, em Recife. Mas sua maior vitória foi a confirmação da promessa: seus soldados foram libertos e passaram a receber pensões militares.
No auge da guerra, o rei ordenou um cessar-fogo. Henrique Dias recusou-se a obedecer. Escreveu diretamente aos holandeses: “Pernambuco é minha pátria e não vou desistir dela. Se necessário, morrerei lutando.” Ignorou ordens da Coroa para continuar combatendo. Venceu — e fez história.
Por que Henrique Dias foi apagado da história?
Apesar de seu papel central na formação do Brasil e do Exército, Henrique Dias foi silenciado nas narrativas oficiais. Diferente de heróis populares, ele era monarquista, católico e leal à Coroa — um perfil que não se encaixava nas construções ideológicas posteriores, especialmente em discursos de viés progressista ou republicano.
Seu heroísmo negro, sua liderança e sua lealdade não serviam a nenhuma narrativa dominante. Foi retirado das salas de aula, dos monumentos e da memória coletiva. Seu nome sobrevive quase exclusivamente nos círculos militares, onde é reconhecido como um dos fundadores simbólicos do Exército Brasileiro.
O Brasil é feito de heróis esquecidos
Henrique Dias representa o Brasil real — contraditório, diverso, corajoso. Um homem negro, liberto, que usou sua voz, sua espada e seu sangue para lutar não apenas por uma terra, mas por um povo. Se a história não fez questão de lembrar, cabe a nós recontar.
Relembrar Henrique Dias é mais do que um ato de justiça histórica. É uma forma de reconhecer que o Brasil que temos hoje foi construído por mãos negras — inclusive aquelas que, mesmo feridas, não soltaram suas espadas.
Referências
- Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Dias
- Micael Crasto – https://www.instagram.com/p/DGRh18KN5Le/
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